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Saturday, April 3, 2010

Ensaio sobre a Preguiça

Todos dormem. Chove. É manhã. Amanhã será páscoa, mas onde está o coelhinho? Não o vejo, só vejo a preguiça.


“Seu nome advém do metabolismo muito lento do seu organismo, responsável pelos seus movimentos extremamente lentos. [...] De hábitos solitátios, a preguiça tem como defesa sua camuflagem e suas garras. [...] Dorme cerca de 14 horas por dia, também pendurada nas árvores. [...]Raramente desce ao chão, apenas aproximadamente a cada sete dias para fazer as suas necessidades fisiológicas.” (WIKIPEDIA, Bicho-preguiça: 2010).
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A preguiça de longe parece bonita. De perto, porém, é suja. De longe é acolhedora, mas de perto é repulsiva. Como se sentir bem ao lado do ócio? A própria preguiça não simboliza a páscoa, ela não bota ovos de chocolate. Ela não tem criatividade, inspiração, atividade.

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"A "preguiça" não é uma característica estritamente humana, na natureza muitas vezes é uma forma de preservar energia por longos períodos.” (WIKIPEDIA, Preguiça: 2010).
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Então vamos preservar a energia por longos períodos, para nos deleitarmos dela algum dia? Isso não parece plausível. Não para o homem. Como acumular a energia que não se produz? O ócio não produz energia. [Deve produzir a antimatéria, anulando as últimas fagulhas de matéria.]
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“Na Páscoa, é comum a prática de pintar-se ovos cozidos, decorando-os com desenhos e formas abstratas. Em grande parte dos países ainda é um costume comum, embora que em outros, os ovos tenham sido substítuidos por ovos de chocolate. No entanto, o costume não é citado na Bíblia. Portanto, este costume é uma alusão a antigos rituais pagãos.” (WIKIPEDIA, Páscoa: 2010).
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Até o coelho que não tem relação alguma com o cristianismo veio tentar ressuscitar a criatividade, a inspiração, a atividade humana.

Não bastando um exemplo de vigor físico, trouxeram o chocolate. Seria divertido fazer os ovos, com pinceladas de chocolate, com carinho para presentear, com a confraternização na cozinha.

Mas ninguém tem tempo! O tempo urge! O tempo urra! O tempo voa! O tempo não existe. É uma invenção do homem para ajudá-lo a se organizar.
O sistema econômico aproveitou-se de um nicho de fé. Não na fé da ressurreição de cristo ou do cristianismo. Mas no nicho dos “sem tempo”. Daqueles que pensam estar economizando tempo imprimindo em vez de escrevendo, mas que não usam o tempo "economizado" pra absolutamente nenhuma outra coisa. Aqueles que tem fé de que um dia tudo será perfeito. Sozinho, a partir da autocriação.
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Oras, ainda assim as pessoas sairiam de casa para fazer algo útil, divertido: comprar chocolate. Presentear com chocolate e ver o outro feliz. Mas o dinheiro é curto, não dá pra presentear todo mundo, não dá tempo de ir visitar todo mundo.
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Simplesmente não dá. Nunca dá.
Ah, mas existe o Orkut! Então podemos enviar cartões postais virtuais de páscoa, com coelhos e ovos, cheios de glitter para os nossos queridos!

???
Como assim? Como é que é? Fomos reduzidos a que? Preguiças virtuais?
[Sem energia acumulada porque o ócio não gera energia. Gera barriga. E barriga não gera energia.]
Cartões virtuais? E o tempo que tá curto? Não se tem tempo pra visitar, mas para enquadradar o bumbum na cadeira aí sim?
Vamos enquadradar então. [Ou seria "enquadrar", mesmo?!] Tudo vira quadrado, cheio de ângulos iguais ainda por cima, porque falta até a criatividade para mudar os padrões negativos mentais de resposta.

Quadrados e pessimistas. Isso é mais do que preguiça. Isso é desleixo, falta de respeito. Falta de educação. [Não é educado passear de transporte coletivo com o cabelo fedido!].
Não se tem tempo nem para o asseamento pessoal mais? Você acorda, e quando dá “bom dia” ainda dá com a boca fedida? E mais, não se responde a um “bom dia”, com um “o que tem de bom nele?”. O gesto não significa uma interrogação do tipo “está sendo um bom dia para você?”.
O “bom dia” deve ser uma oferenda, um voto carinhoso ao outro. Isso deveria soar como um gesto amigo e fraternal, digno de agradecimento.
A reverência ainda existe. A polidez é uma vitória cotidiana. Os bons modos são acolhedores. A paciência é virtude dos sábios. A sapiência se adquire com boa vontade, inspiração, atividade. A criatividade deve ser contemplada e exercida a todo momento.

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“Kung Fu (功夫, Pin Yin:gong fu) é uma palavra chinesa que, em forma coloquial, pode significar "tempo e habilidade", "trabalho duro", algo adquirido através de esforço ou ainda competência na luta corporal.” (WIKIPEDIA, Whushu, 2010).
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Em um livro, provavelmente na versão brasileira do "A arte da guerra", que constava um pouco sobre a vida de Sun-Tzu, li algo do tipo:
Sempre ao acordar, cuido de limpar minha face e arrumar meus cabelos. Arrumo minha cama. Tomo chá e cumprimento meus familiares com reverência. Deve-se sempre tratar os próximos com tanto asseamento quanto se trata as visitas, pois eles lhe são mais importantes.

Conta-se que outro sábio tratava suas roupas com reverência. Dobrava as roupas sujas como se estivessem limpas, lavava-as e as agradecia por vestir-lhes o corpo.
O eu-verdadeiro convive com o eu-falso. O eu-falso morre. O eu-falso perece. Não deixe o morto enterrar o vivo.

[Alguns acordaram, e não fizeram nada, outros continuam dormindo. Mas alguns acordaram.]
*fotos: Google search

2 comments:

  1. D++ adorei.
    "trabalho duro" é o que mais importa, é para isso que sabemos nos mexer e sabemos o que tem que ser feito.
    Um beijo grande!

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  2. Nossa!!!Show lu, adorei o texto, muito bom para refletir pacas!!!
    Parabéns grandão pelo seu esforço e continue assim!!!
    Um abraçãaao de urso!! \o/
    ;**

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